Iniciei esse tema explicando o impacto da codependência passiva no relacionamento com o parceiro. Você pode ler a primeira parte dessa reflexão clicando aqui. Nessa segunda parte, abordarei o impacto do comportamento do codependente ativo na relação com outro codependente ou com alguém mais saudável do que ele, não com um narcisista.
Eu conheci o termo Codependente Ativo através do livro doRoss Rosemberg, The Human Magnet Syndrome. Imediatamente fez muito sentido pra mim. Como você sabe, atendo muitos pacientes codependentes e percebo semelhanças e diferenças importantes entre eles. Por essa razão, entendo por que muitas vezes um paciente não se reconhece codependente, especialmente o que sofre de codependência ativa.
A imagem que a maioria das pessoas faz do codependente é a do passivo. Por outro lado, há algumas características importantes em comum entre os codependentes passivos e ativos. Por exemplo, a ideia de que precisam de um parceiro para se sentirem estáveis e seguros, a carência da atenção e do amor do outro, a dificuldade de sair de uma relação mesmo quando ela está insatisfatória. Por outro lado, algumas diferenças são evidentes.
Vale deixar claro que o codependente ativo costuma ser mais presente em homens do que em mulheres, mas existem muitas mulheres que atendem totalmente aos critérios. Eu me lembro perfeitamente de várias pacientes que atendi e atendo ainda. Outro fator significativo é que ele pode parecer narcisista, porque tem semelhanças, mas não preenche os critérios do narcisismo.
Bem, o que mais chama a atenção no comportamento do codependente ativo é que ele não se subjuga ou se sacrifica pelo outro ou, pelo menos, se isso ocorrer, não é um padrão marcante. Ele pode ser bem “generoso” com o outro, mas não faz isso como um autossacrifício. Ele costuma se colocar numa posição mais dominante na relação, reclamando o que ele entende que são os seus direitos, sem medo do conflito. Muito pelo contrário, ele provoca conflitos facilmente, ao não ser atendido na sua necessidade.
O codependente ativo também pode se mostrar bastante controlador, ciumento e manipulador. O que explica isso? Ele apresenta um padrão de crenças de que o parceiro é quase “seu objeto”, sua posse. Eu me lembro de alguns pacientes que eram assim e diziam claramente que não suportavam que alguém tocasse na parceira ou no parceiro deles. Então, esse ciúme pode ser doentio e, se descobrem alguma traição da parceira ou o interesse dela por outra pessoa, isso é como uma punhalada no peito. Eles se sentem profundamente ofendidos e demonstram enorme dificuldade de aceitar ou de superar situações assim, pois interpretam como desprezo e rejeição.
Outra particularidade que chama a atenção neles é a arrogância, que não costuma ser no nível elevado do narcisista. Se, por um lado, fica claro que possuem uma criança interior ferida e vulnerável, por outro, as mais evidentes são a criança interior zangada e a mimada. Sim, na terapia do esquema, uma das bases mais importantes do meu trabalho, há outro modos de funcionamento das crianças interiores e que não é o caso de abordar em maior profundidade agora. Bem, eles se sentem merecedores da atenção e de terem suas necessidades emocionais atendidas. Às vezes, lhes falta empatia, mas, novamente, não no nível dos narcisistas.
Além dessas características, apresentam, muitas vezes, rigidez. Seu padrão obsessivo e a rigidez de suas crenças tornam difícil a negociação com o parceiro.
A busca de aprovação e reconhecimento é outro ponto pelo qual podem ser confundidos com o narcisista. Porém, o nível de exigência do narcisista, em ser a pessoa que brilha na relação, não é característica do codependente ativo. Nesse caso, o motivo para buscar aprovação e reconhecimento é para se perceber valoroso e amado. Geralmente, isso os torna pessoas bem-sucedidas e de destaque nas suas áreas de atuação.
A dificuldade no controle emocional e a reatividade do codependente ativo é algo que também tumultua o relacionamento. Seu comportamento de controle é bastante presente e incomoda muito o parceiro. Então, não é raro que eles rastreiem o parceiro por aplicativos, olhem tudo o que ele faz no celular, nas redes sociais, para quem ele dá like, faz comentários, sobre qual assunto etc. Muitos se mostram bastante abusivos no que diz respeito à vida privada do parceiro, pois a invadem sempre que conseguem.
É por isso que vale muito a pena fazer terapia especializada em codependência, curar a criança interior e desenvolver o adulto saudável. E você, conhece o meu curso sobre a criança interior ferida? Ele visa auxiliar a um grande passo na recuperação, o que já ajuda na convivência do codependente ativo. Para conhecê-lo,clique aqui.
Referência: Rosenberg, Ross A. (2013) The Human Magnet Syndrome: Why We Love People Who Hurt Us. PESI Publishing & Media.
Para assistir ao vídeo sobre o tema,clique aqui.
Obs.: Se você desejar copiar este artigo para posterior inclusão em qualquer mídia, pede-se que o mantenha na íntegra e adicione os créditos ao final, ou seja, Dra. Elizabeth Zamerul, médica psiquiatra (CRM-SP: 53.851), psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e expert em Dependência Emocional.
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