Para quem vive em relacionamentos destrutivos, a psicoterapia de grupo temático para quem sofre de dependência emocional ou codependência, também ajuda a desenvolver virtudes ou forças que auxiliam muito na recuperação e na capacidade de viver relacionamentos saudáveis. Aqui destacamos algumas destas forças:
1. Protagonista
Ser protagonista é dizer: Basta de ser vítima! Ou seja, adquire-se clareza de que cada pessoa é responsável por si e livre para escolher um novo jeito de funcionar e que tem poder para mudar o seu rumo para melhor. A pessoa assume a responsabilidade pela sua condição problemática, e é incentivada a agir, a fazer algo diferente do que fazia antes para mudar a sua vida.
2. Coragem
É preciso muita coragem para escolher responsabilizar-se e mais ainda para aceitar de se olhar no espelho a cada dia, e enxergar sua condição atual. É mais fácil pôr a culpa nos outros, mas não resolve. Além disto, há outro comportamento-chave na terapia de grupoque exige coragem: se expor, falar de fatos, fantasias, pensamentos, vontades, ações que muitos nunca contaram pra ninguém antes, que os envergonham ou que causaram prejuízos a si próprios ou para terceiros. Através do ouvido atento e o respeito do grupo, as pessoas buscam esta força dentro de si e a encontram. Daí, podem usá-la pela vida afora.
3. Humildade
Quando alguém entra num grupo, busca ajuda de pessoas que não conhece. Vale lembrar que somos rodeados por crenças que estimulam o “orgulho” do ego, onde se pensa que gente forte é independente, que “precisar dos outros” inferioriza, revela fraqueza e é humilhante. Já ouvi muitos “na pior” dizerem, batendo no peito: “pode deixar que eu resolvo os meus problemas sozinho”. Talvez eles ainda não tenham tomado consciência de que todos se precisam e todos podem se ajudar, que isto pode facilitar muito a vida e reforça a união e os vínculos. Você faz a manteiga que come? Ou a roupa que usa? Ou seja, você conhece alguém que dê conta de todas as suas necessidades sozinho? Se você sabe resolver um problema pessoal, fantástico. Se não sabe, o que é mais inteligente, continuar sofrendo, ‘patinando’ com o problema ou procurar ajuda o mais rápido possível e resolvê-lo? Buscar ajuda, quando já se esgotou os próprios recursos, significa ir além do ego e descobrir a humildade.
4. Capacidade de Auto-observação, Autoanálise e de Tomar Consciência
É uma condição básica de qualquer mudança verdadeira. No grupo, o processo constante de observar e escutar o outro leva à auto-observação, à autoanálise e gera aprendizados. O espelhamento (o outro funciona como um espelho) estimula o indivíduo a prestar atenção ao seu próprio comportamento e, ao comparar com os sintomas da doença e aos comportamentos saudáveis que quer obter, ele percebe, isto é, toma consciência do ponto em que está, na evolução da doença.
5. Honestidade
Participar de um grupo para mentir é tão inútil que esta idéia beira o absurdo. As pessoas num grupo de terapia não são obrigadas a falar, podem ficar em silêncio, se preferirem. E quando falam, dizem o que querem. Além disto, observar pessoas expondo sua intimidade de maneira sincera e comprometidas em descobrir a sua verdade para alcançar a sanidade, é altamente inspirador para aceitar este convite de ser honesto também. Portanto o grupo promove a mudança de caráter, estimulando comportamentos éticos.
6. Aceitação e Não julgamento
Escutar opiniões diferentes da sua, a respeito de situações de vida tão próximas na essência, com a ajuda do terapeuta bem treinado, oferece um convite para refletir com mais isenção, sem o julgamento do certo e do errado. Isto auxilia para desenvolver-se a capacidade de aceitar o outro como é, como está, na melhora ou na recaída, nas suas diferenças, semelhanças e esquisitices e faz com que, aos poucos, o julgamento perca a utilidade. Desta forma, cada um também se sente aceito na sua individualidade pelo grupo e aprende a se aceitar.
7. Compaixão
O respeito é uma regra no grupo. Por isto, o processo da escuta atenciosa abre espaço para pessoas se colocarem amorosamente no lugar das outras, através da empatia. Assim, descobrem que muita gente sofre, que as aparências enganam, que alguns têm desafios enormes para superar, que a dor do outro pode ser maior. Isto abre espaço para o acolhimento, amplia a capacidade de compreensão e também predispõe à ajuda desinteressada àquele que está no início da recuperação ou num momento crítico, ou seja, estimula a compaixão.
8. Senso de igualitarismo
É impressionante como os preconceitos e as diferenças ideológicas se dissolvem com a vivência no grupo de terapia. O olhar focado principalmente na humanidade das pessoas, nas dificuldades, forças e fraquezas, vontades e frustrações, vitórias e perdas, alegrias e tristezas, sonhos e medos, contribui para que pessoas se encarem de modo fraternal e igualitária, independentemente das diferenças iniciais.
Conclusão
Acredito que algumas destas virtudes sejam incomuns até entre os que se consideram “normais” e elas representam um alicerce forte para pessoas enfrentarem os desafios dos relacionamentos e da vida como um todo. Portanto, além de trabalhar as dificuldades da vida e os temas ligados à recuperação, fazer parte de um bom grupo terapêutico fornece ganhos muito além da sanidade, aumenta as chances do indivíduo, de ser feliz e realizado na vida.
Obs. Se você desejar copiar este artigo para posterior inclusão em qualquer mídia, pede-se que o mantenha na íntegra e adicione os créditos ao final, ou seja, Dra. Elizabeth Zamerul, médica psiquiatra (CRM-SP: 53.851), psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e expert em Dependência Emocional.
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