1. Dra.! Sou louco?
Resp.: Loucura é um conceito sociocultural criado com várias intenções políticas, por exemplo, para excluir pessoas da sociedade. Não é um termo psiquiátrico. Muitos não vão ao psiquiatra quando precisam porque acham que isso seria o mesmo que ganhar um atestado de loucura ou declarar-se louco. A maior parte dos pacientes que vai ao psiquiatra não tem uma doença muito grave e, se alguém já está com um transtorno mental, não é o fato de não ir ao psiquiatra que o torna saudável. Ao contrário, se estiver numa condição adoecida, se não se tratar, só vai piorar e terá mais prejuízos no seu dia a dia. No consultório, cada cliente é acolhido no seu sofrimento e avaliado para um diagnóstico mais preciso da situação e a melhor decisão de tratamento para o seu caso.
2. Eu posso lidar com meus problemas e, se eu tiver que procurar um psiquiatra, é porque sou fraco.
Resp.: Naturalmente é melhor quando damos conta dos nossos desafios diários, mas é comum necessitarmos da ajuda de um médico para curar uma doença física, de um cabeleireiro, de um personal trainer, ou seja, precisar de ajuda só mostra que vivemos num contexto de interdependência, em que todos auxiliam e são auxiliados pelas competências que possuem. Por acaso alguém pensa que ir a um dermatologista é sinal de fraqueza? Na psiquiatria vale o mesmo. A visão de que a pessoa que vai a um psiquiatra é fraca é somente um preconceito.
3. Terei que tomar remédios?
Resp.: Numa consulta psiquiátrica, ao contrário do que muitos pensam, nem sempre é necessário o uso de medicamentos psiquiátricos. Há casos em que outros tratamentos são mais adequados e, quando é necessário medicar, um bom profissional prescreve cuidadosamente, ou seja, sempre que possível, com o medicamento que tenha menos efeitos colaterais, na menor dose possível, que não provoque dependência e, logo que possível, os retira.
4. Medicamentos psiquiátricos causam dependência e depois de começar, é muito difícil parar de tomá-los.
Resp.: A maioria dos medicamentos psiquiátricos não causa qualquer dependência, como os antidepressivos, os estabilizadores de humor e outros. Se for necessário usar medicamentos que causem dependência, sendo o psiquiatra consciencioso, ficará mais atento para esse aspecto. É bom lembrar que mesmo esses medicamentos muitas vezes podem ser retirados com o progresso do tratamento. Por outro lado, hoje em dia temos duas situações complicadas que muitos não se dão conta. A primeira é que médicos de qualquer especialidade têm passado calmantes, como rivotril, diazepam e outros medicamentos que causam dependência e muitas pessoas iniciam o uso dessa forma, sem nenhuma preocupação, esquecendo-se de que alguns desses profissionais podem não ter a formação necessária para usar essas drogas. A segunda situação é que esses mesmos medicamentos têm sido passados entre familiares, amigos e vizinhos, comprados no “mercado paralelo” e as pessoas os usam sem a menor noção do risco do uso indiscriminado e sem a orientação do psiquiatra. Essas situações, sim, merecem uma atenção especial.
5. Diagnósticos psiquiátricos são apenas rótulos inventados para comportamentos normais.
Resp.: É natural que seja difícil para o leigo distinguir entre comportamentos normais e doentes, mas há pessoas que sofrem intensamente e não conseguem trabalhar, ter vida social e familiar, ou seja, funcionar no cotidiano por causa de sintomas psiquiátricos incapacitantes que têm sido muito investigados pelos cientistas, do mesmo modo que em outras áreas da medicina. Assim, evita-se o “chute”. Há muito conhecimento já acumulado e os diagnósticos são importantes para que o paciente entenda o que acontece com ele e para que o psiquiatra siga.
6. Se eu for a uma consulta psiquiátrica o médico pode me internar?
Resp.: Esse receio é resquício de um passado triste da psiquiatria, que torna a possibilidade da internação uma situação assustadora. Em primeiro lugar, a internação é rara na psiquiatria, sendo recomendada quando um paciente está numa crise muito grave, em situações extremas, colocando em risco a sua vida ou a de terceiros; ou seja, a grande maioria dos tratamentos é feita em consultórios ou ambulatórios. Em segundo lugar, quando a internação é necessária, hoje em dia há clínicas e hospitais modernos, com estrutura completamente adequada e humanizada. Neles, como em qualquer outra situação médica que exige hospitalização, o paciente recebe tratamento e é reavaliado pelo médico na medida da sua necessidade, vindo a ter alta quando obtém a melhora necessária para continuar a se tratar fora do hospital.
7. Transtornos mentais são raros?
Resp.: Se tudo o que foi dito antes não serviu para desmistificar a psiquiatria, vale ter claro que, de acordo com estatísticas de 2013, no Brasil, cerca de 12% da população, (24 milhões de pessoas), ou 1 em cada 10 adultos necessitam de atendimento psiquiátrico. Isso significa que transtornos mentais são bastante comuns.
Visto todos esses pontos, se você tem dúvida se precisa de uma avaliação psiquiátrica, não se deixe levar pelos preconceitos. Tire a sua própria conclusão. Escolha um bom profissional, passe por uma consulta, escute atentamente e use o seu discernimento e bom senso para decidir o que fazer depois. Afinal, você é quem decide sempre!
Obs. Se você desejar copiar este artigo para posterior inclusão em qualquer mídia, pede-se que o mantenha na íntegra e adicione os créditos ao final, ou seja, Dra. Elizabeth Zamerul, médica psiquiatra (CRM-SP: 53.851), psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e expert em Dependência Emocional.
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