Não é incomum, na prática da gestão de pessoas, ouvirmos colaboradores que se queixam de gestoras “duronas”. As causas deste comportamento podem ser várias e vamos, nesta reflexão, avaliar uma delas. Na nossa cultura, expressar emoções diante de certas situações ainda é interpretado como sinal de fraqueza ou falta de controle e, por isto, se uma mulher se mostra emotiva no ambiente de trabalho, isto pode servir de pretexto para sarcasmo ou de desvalorização profissional.
É comum a facilidade ou a falta de bloqueio da mulher para expressar suas emoções e sentimentos, ou seja, diante de situações de risco, de frustração ou de uma cena emocionante num filme, mulheres costumam chorar. Isto é um defeito feminino? Em absoluto. A sensibilidade emocional faz parte da natureza humana e estudos do comportamento humano demonstram que, na infância, as mulheres são estimuladas a se expressar neste nível, enquanto os homens não, especialmente quando se trata de medo, como um sinal ou representação da sua independência, virilidade e coragem.
A competição, no mundo das organizações, pode se mostrar cruel e o que vemos, na prática, muitas vezes, é a tentativa da mulher de se masculinizar para ganhar espaço de poder. E por que? Ela parte desta mesma premissa. Por isto, muitas vezes, ela assume uma postura insensível e fria, buscando eliminar qualquer sinal de emoção que possa depor contra ela e desfavorecê-la na competição profissional. O problema é que, desta forma, ela pode anular ou jogar fora uma vantagem competitiva importante.
Por outro lado, se refletirmos que raiva, irritação, ansiedade, impaciência, hostilidade, impulsividade, agressividade, inveja, orgulho, apatia, mágoa, frustração, desânimo, tédio, culpa, egoísmo, depressão, procrastinação e preocupação também são expressões das emoções, podemos afirmar que são mais parte do universo feminino do que do masculino, no ambiente de trabalho? Ou, que os homens têm mais competência para lidar com eles do que as mulheres? Não creio.
E o que dizer da capacidade empática? A literatura científica comprova a maior facilidade da mulher para captar sinais emocionais verbais e não-verbais e para lidar com as emoções do outro, o que significa mais chance de compreender as necessidades emocionais deste e, portanto, de motivá-lo. Além disto, a mulher, de um modo geral, tem mais facilidade de reconhecer e identificar as próprias emoções.
Tudo isto mostra que a mulher, no campo das emoções, evoluiu ou amadureceu mais do que o homem e isto não a torna melhor do que ele, mas indica que ela possui um elemento que pode ser utilizado ao seu favor, no ambiente de trabalho. Esta competência pode fazer a diferença quando uma das palavras-chaves da convivência organizacional atualmente é a interdependência e as empresas investem tanto no trabalho de equipe, em ter líderes eficazes e colaboradores comprometidos.
Então, qual é a minha sugestão? Que a mulher separe o joio do trigo, ou seja, que ela conserve seus aspectos mais favoráveis da competência emocional e os use conscientemente e que desenvolva o que lhe falta. Por exemplo, chorar no ambiente de trabalho é adequado? Por mais natural que seja, em certos contextos, pode ser mal interpretado. Por isto, vale a pena investir na capacidade de regular a intensidade da sua emoção e de ser menos transparente. Para isto, existem técnicas de respiração, de relaxamento, de mudança de foco do problema e outras eficazes. Tudo isto significa gerenciar melhor as próprias emoções, não eliminar, negar ou perder a conexão com elas.
Portanto, expressar emoções não é motivo para vergonha ou culpa. Tudo o que nos constitui é parte de um todo inteligente e funcional. O que precisamos é discernir o que, como e quando usar, sempre no sentido de contribuir para nos fazer mais felizes e realizados.
Obs. Se você desejar copiar este artigo para posterior inclusão em qualquer mídia, pede-se que o mantenha na íntegra e adicione os créditos ao final, ou seja, Dra. Elizabeth Zamerul, médica psiquiatra (CRM-SP: 53.851), psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e expert em Dependência Emocional.
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