O Cinema é um ótimo recurso de aprendizagem sobre a vida. Há algum tempo venho examinando filmes que mostram mulheres casadas e bem sucedidas profissionalmente. Erin Brokovich é um deles. Nele, a personagem de Julia Roberts tem 3 filhos pequenos e começa a contar com o apoio do namorido (namorado + marido) para cuidar destes filhos, enquanto ela trabalha. Num certo momento, alegando receber pouca atenção dela, ele a deixa. No filme ‘O diabo veste Prada’, Meryl Streep, no papel de Miranda, é uma grande executiva. O filme não mostra detalhes dos motivos para o marido dela pedir o divórcio. Ainda no mesmo filme, o namorado da Andrea Sachs – “Andy” (interpretado por Anne Hathaway) também a deixa, quando a dedicação dela ao trabalho aumenta muito e a atenção a ele diminui. Um terceiro filme que também aborda este tema é ‘Escritores da Liberdade’, onde Hilary Swank, no papel da Erin Gruwell é casada e começa a mergulhar no trabalho, de tal modo que o marido pede o divórcio. Estes filmes parecem deixar uma pergunta no ar: os homens não estão dispostos a apoiar a carreira da mulher, se ela precisar se dedicar mais? Eles não se submetem ao papel da “esposa tradicional” como a mulher desempenhou por tanto tempo e muitas ainda desempenham? E, se isto for verdade, o que significa? Que é injusto com a mulher? Será esta a sua vingança à evolução feminina?
Aqui cabe refletir. Talvez seja prematuro falar em injustiça. Olha-lo como vilão não vai ajudar a lidar melhor com a situação e se a mulher pensar que pode simplesmente inverter os papéis, mostrará estar pouco atenta aos fatos. Analisando os históricos culturais e sociais dos dois sexos, vemos que são completamente diferentes. É possível que uma mulher se sinta confortável no papel de quem cuida dos filhos, da casa e de toda a retaguarda para o seu marido trabalhar fora. É possível também que ela seja bem vista pelos outros, estando neste papel. Afinal, num passado recente esta era a regra e hoje, esta ainda é a realidade de muitas mulheres. Portanto, não há estranheza em vê-la atuando assim. E quanto ao homem? Numa sociedade tão centrada na imagem, como fica a do homem que é “sustentado pela mulher”? Sim, em alguns casos ele pode ser até invejado por alguns homens que o chamariam de “esperto”, no sentido pejorativo, por ter dado um “golpe do baú”, mas este papel não é exatamente confortável para qualquer homem.
Além disto, mesmo sem ser sustentado por ela, como é, para ele, receber tão pouca atenção dela e se ver como o segundo lugar na vida dela? Por centenas (ou milhares?) de anos, os homens ocuparam o centro da vida das mulheres, ou seja, aprenderam que o normal é que eles, enquanto maridos, sejam a prioridade delas. Então, não cabe julga-los precipitadamente. Além da história masculina ser tão diferente da feminina, de um modo geral, eles não estão preparados psicologicamente para esta mudança radical.
Enquanto isto, no mercado profissional, especialmente no executivo, a mulher ainda precisa se dedicar mais e até obter mais diplomas para ser considerada igualmente competente. O que fazer então? Não há uma receita e sim alguns pontos a observar. Para que a mulher consiga que o seu marido a apóie numa carreira que quer ou precisa se dedicar muito, especialmente quando é necessário que ele venha a cuidar da retaguarda, é preciso fazer um diagnóstico bem feito da situação, das condições que este homem tem (ou não) para fazer esta mudança, aceitar o histórico dele, muita paciência, muito diálogo, muito preparo, negociar o que realmente pode satisfazer a cada um até deixar este contrato da relação muito claro entre os dois e benéfico para ele. Se ele não considerar assim, provavelmente não suportará as pressões internas e externas. Além disto, é preciso aproveitar muito bem os momentos juntos, dando à relação uma ótima qualidade de atenção, embora num tempo menor.
Por outro lado, também vemos mais mulheres pedindo o divórcio quando seus maridos não lhe dão a atenção que buscam. Um filme que mostra esta situação é Anjos da Vida, onde a esposa do Randall, o personagem do Kevin Costner, o deixa pela sua priorização ao trabalho. Talvez tudo isto mostre que o relacionamento afetivo atual mudou e requer ser alimentado pela atenção e cuidados de cada envolvido. Com atenção insuficiente, ele se desnutre e pode morrer. Então, não é uma questão de certo e errado. Para buscar um contrato assim tão ousado na vida a dois, especialmente na nossa cultura brasileira, é preciso ter bastante consciência do que se quer, não pressionar, cobrar ou fazer jogos de manipulação e sim ser bastante transparente e honesta na relação com ele. Tudo isto ainda não garante os resultados, mas, o importante é entender que não ser apoiada pelo marido não significa estar sendo vitimada por ele. A situação é bem mais complexa e, por isto, exige atenção, reflexão, cuidados especiais e personalizados.
Obs. Se você desejar copiar este artigo para posterior inclusão em qualquer mídia, pede-se que o mantenha na íntegra e adicione os créditos ao final, ou seja, Dra. Elizabeth Zamerul, médica psiquiatra (CRM-SP: 53.851), psicoterapeuta, especialista em Dependência Química e expert em Dependência Emocional.
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